"Lembro que sempre sonhei viver de amor e palavra." Herbert Vianna

Visitante número

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O pintor do céu

As pessoas adoram admirar o céu e suas cores. As nuvens e suas formas.
Acontece é que elas não sabem que por trás da imensidão do céu há um homem. Um senhor. Não tão velho. Com seus sessenta e tantos anos. Sozinho. 
É um pintor desde que ele se lembra. Mora numa pequena vila chamada Linyuskyville. Até difícil de pronunciar. Acho que ninguém nunca pronunciou corretamente. Ou se há uma maneira correta de pronunciar (o que não vem ao caso). Este senhor mora sozinho, cresceu sozinho, se criou sozinho. Sua casa é a que fica mais distante de todas as outras casas do vilarejo.
Acho que as pessoas de lá têm medo dele. Nem ousam chegar perto da casinha dele. As crianças já crescem achando que ele é uma pessoa ruim e nem pensam em brincar por lá. Menos Lily. Uma menina sadia e inteligente. Branquinha e com seus cabelos cor de ouro, como quase todos que viviam lá. Resolveu ela sair a "desbravar" e sem medo algum subiu um pouco a montanha, onde se encontrava a casa do senhor. Encontrou a porta meio aberta, bateu. Ninguém veio. Não esperou e entrou. Esperava encontrar uma casa suja e velha, pois era o que todos diziam. Ao contrário disto, viu uma casa linda, bem cuidada, limpinha e cheia de cor. Isto mesmo. Tinha nas paredes pinturas emolduradas de céus. Muitos céus. Apenas céus. Cheios de cores, de nuvens, ou de estrelas, ou sol, ou lua. Ficou olhando todas aquelas imagens com os olhos brilhando e foi entrando cada vez mais na casa. Subiu as escadas e viu um homem de costas, pintando uma tela. Na tela: o céu. Olhava o céu da pintura e olhava o céu pela janela. Percebeu que quando o senhor pintava na tela era como se pintasse no céu também. O pincel com tinta branca passando pela tela fazia nuvens no céu lá fora. Teve um pouco de medo disto, deu um passo para trás e derrubou uns pincéis no chão. O senhor olhou para trás rapidamente, a menina correu assustada, sem parar. Chegou em casa já sem fôlego e ficou sentada na grama e olhando para o céu. Com milhares de perguntas na cabeça. 
No dia seguinte foi lá novamente. E novamente viu o senhor pintando o céu, com cores diferentes. E o céu lá fora mudava de acordo com que o senhor pintava. Ela achou aquilo lindo e mágico. O senhor virou para trás e a viu. Desta vez a menina não correu. Perguntou a ele como fazia aquilo e porquê fazia. Ele disse que simplesmente pintava, sempre pintou e sempre pintará.
Lily passou a ir lá todos os dias. O senhor era muito simpático e educado. De mau ele não tinha nada. Apenas a fama. E durante todos estes dias em que Lily ia visitá-lo, foi quando o céu esteve mais lindo. Cada dia mais bonito.
A mãe de Lily achou estranho as saídas repentinas da filha em vários horários do dia e a proibiu de ficar saindo sem que dissesse pra onde iria.
Depois disso o tempo mudou. O dia não tinha mais brilho. O céu não tinha mais todas aquelas cores lindas. Ficava quase o tempo todo de uma só cor: cinza.
O senhor que ficava tão feliz com as visitas da menina, agora estava tão triste que não queria mais pintar. Não entendia porque ela havia parado de visitá-lo. Se perguntava se havia feito algo que ela não gostou.
Passaram-se semanas e nada da menina. E nada do sol. E nada de cores. 
O senhor resolveu fazer algo. Levantou de sua cadeira. Deixou seus pincéis. Colocou seu chapéu que há muito estava pendurado, já empoeirado. Saiu de casa. Finalmente. Depois de taaaantos anos. Foi caminhando e caminhando até chegar aonde todos viviam. Todos olhavam para ele amedrontados. Ele saiu perguntando para cada pessoa que encontrava aonde morava a menina chamada Lily. Todos respondiam e tentavam lhe indicar a direção, não por educação, mas por medo mesmo.
Finalmente encontrou a casa da menina, uma casinha pequenina, mas arrumadinha. Pintada de azul. Azul bebê, ou seria azul turquesa? Azul claro? Era azul CÉU. Chamou por ela e a mãe foi ver quem era. Se assustou ao vê-lo. Mas logo viu que ele não passava de um senhor humilde e educado. O convidou para entrar e lá ficaram a tarde inteira a conversar, juntamente com Lily, é claro. Explicaram então onde Lily ia todos os dias e porquê ia. 
O senhor voltou para casa como nunca estivera antes: extremamente feliz. Feliz por ter tido coragem de sair de casa. Feliz por conversar com alguém. Feliz por rever a menina. Feliz. Feliz. Feliz.
No dia seguinte o céu estava tããão, mas tããão lindo e colorido. E só quem sabia o porquê da mudança repentina do céu eram Lily e agora sua mãe. Que passaram a visitar o senhor todos os dias.



Nina

Um comentário:

  1. Se quem visitasse o Senhor fosse uma menina chamada Nina, tenho certeza que o céu teria 2 sois, estrelas durante o dia e arco-íris para iluminar as noites!

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