"Lembro que sempre sonhei viver de amor e palavra." Herbert Vianna

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."

Primeiramente sobre um homem. Um escritor. Um ateu. Um português.
Me apaixonei por ele. E me apaixono mais ainda a cada linha que leio de cada livro dele.
JOSÉ SARAMAGO.

José de Sousa Saramago (16/11/1922 - 18/06/2010) foi um escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português.
Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Rio, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias. 



Já tive o prazer de ler "Ensaio sobre a Cegueira", " O evangelho segundo Jesus Cristo" e "As palavras de Saramago". E no momento estou lendo "Ensaio sobre a lucidez" que futuramente postarei algo aqui. =)
 Mas hoje, vou falar do "Ensaio sobre a Cegueira".



Ensaio sobre a Cegueira é um romance publicado em 1995 e traduzido para diversas línguas. A obra se tornou uma das mais famosas de seu autor.
Aos olhos de Saramago "este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."


Resumo da obra:  Esta obra, de José Saramago, faz uma intensa crítica aos valores da sociedade, e ao que acontece quando um dos sentidos vitais falta à população.
A cegueira começa num único homem, durante a sua rotina habitual. Quando está sentado no semáforo, este homem tem um ataque de cegueira, e é aí, com as pessoas que correm em seu socorro que uma cadeia sucessiva de cegueira se forma… Uma cegueira, branca, como um mar de leite e jamais conhecida, alastra-se rapidamente em forma de epidemia. O governo decide agir, e as pessoas infectadas são colocadas em uma quarentena com recursos limitados que irá desvendar aos poucos as características primitivas do ser humano. A força da epidemia não diminui com as atitudes tomadas pelo governo e depressa o mundo se torna cego, onde apenas uma mulher, misteriosa e secretamente manterá a sua visão, enfrentando todos os horrores que serão causados, presenciando visualmente todos os sentimentos que se desenrolam na obra: poder, obediencia, ganância, carinho, desejo, vergonha; dominadores, dominados, subjugadores e subjulgados. Nesta quarentena esses sentimentos se irão desenvolver sob diversas formas: lutas entre grupos pela pouca comida disponibilizada, compaixão pelos doentes e os mais necessitados, como idosos ou crianças, embaraço por atitudes que antes nunca seriam cometidas, atos de violência e abuso sexual, mortes,…
Ao conseguir finalmente sair (devido a um fogo posto na camarata de uma grupo dominante, que instalara ainda mais o desespero controlando a comida a troco de todos os bens dos restantes e serviços sexuais) do antigo hospício onde o governo os pusera em quarentena, a mulher que vê depara-se com a ausência de guarda: “a cidade estava toda infectada”; cadáveres, lixo, detritos, todo o tipo de sujidade e imundice se instalara pela cidade. Os cegos passaram a seguir os seus instintos animais, e sobreviviam como nômades, instalando-se em lojas ou casas desconhecidas.
Saramago mostra, através desta obra intensiva e sofrida, as reacções do ser humano às necessidades, à incapacidade, à impotência, ao desprezo e ao abandono. Leva-nos também a refletir sobre a moral, costumes, ética e preconceito através dos olhos da personagem principal, a mulher do médico, que se depara ao longo da narrativa com situações inadmissíveis; mata para se preservar e aos demais, depara-se com a morte de maneiras bizarras, como cadáveres espalhados pelas ruas e incêndios; após a saída do hospício, ao entrar numa igreja, presencia um cenário em que todos os santos se encontram vendados: “se os céus não vêem, que ninguém veja”…
A obra acaba quando subitamente, exatamente pela ordem de contágio, o mundo cego dá lugar ao mundo imundo e bárbaro. No entanto, as memórias e rastros não se desvanecem.
 
No desenvolver de toda obra, Saramago "joga" frases mais fortes e significativas que as outras. Que nos fazem pensar.. “Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem”

Sobre a escrita. Interessante na escrita das obras que já li dele é a falta de pontuação, ou a "brincadeira" que ele faz com ela. E o incrível é que dá pra saber a entonação perfeita para a frase, mesmo sem pontos. É uma forma peculiar na escrita porque é usada de uma forma não canónica, apesar de o escritor já fazer parte do cânone literário: falta no texto o travessão para identificar o interlocutor no diálogo e somos apenas ajudados pelo início das falas de cada personagem ser assinalado por uma capitular. Também aqui se vê a frase característica da escrita de Saramago, quase sem pontos finais e cadenciada na pausa por vírgulas.

Sobre a adaptação para o cinema. Ao longo de sua vida, Saramago resistira em ceder os direitos sobre seus livros para o cinema. No entanto, em 2008, uma adaptação de Ensaio sobre a Cegueira foi lançada, dirigida pelo brasileiro Fernando Meirelles. O filme obteve mundialmente críticas mistas, dividindo opiniões. No entanto, o longa-metragem agradou Saramago imensamente. O escritor disse a Meirelles "estar tão feliz de ter visto o filme como estava quando acabou de escrever o livro". Em outra declaração, Saramago disse que "agora conhecia a cara de suas personagens.
Sinceramente, eu adorei a adaptação cinematográfica. Pra mim, foi muitíssimo fiel ao livro e pôde contar com ótimos atores, que atuaram super bem.




Referências: http://www.ciberduvidas.com/idioma.php?rid=1691
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ensaio_sobre_a_Cegueira
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Saramago
http://imafotogaleria.wordpress.com/2010/06/18/depoimentos-de-jose-saramago-no-filme-janela-da-alma/

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